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Grito da Saúde


Na madrugada desse domingo o telefone tocou às 2 horas. Invariavelmente só pensamos no pior, em algo relacionado à saúde dos nossos parentes ou amigos. Não era outra coisa: um amigo querido e colega médico havia sofrido um acidente e estava caído na via pública a espera de socorro. Sua esposa ao telefone expressava a angústia dos que vêem o sofrimento daqueles que amam e clamava por socorro. Imediatamente liguei para o nosso SAMU que já havia registrado a ocorrência. Preparando para descer e ir ao encontro dos amigos para ajudar no que fosse preciso, recebo nova ligação de que a ambulância ainda não havia chegado. Faço novo contato com o Serviço de Atendimento Médico de Urgência - baseado no Service d'Aide Médicale d'Urgence, experiência francesa iniciada em 1986 e copiada em muitos países. A informação era que a ambulância estava chegando ao local, após uma espera de 30 minutos. Tempo que a princípio achei elevado, mas que entendi melhor após algumas horas na emergência do Pronto Socorro ‘João Lúcio Pereira Machado’.

Paciente já sendo removido, acompanhei sua esposa ao Hospital na Zona Leste de nossa cidade, procurando acalmá-la e torcendo por um quadro menos grave, pois todo traumatismo de crânio é uma situação médica que inspira cuidados, muitas vezes intensivo.

Ao chegarmos, foi rapidamente admitido e encaminhado para avaliação cirúrgica e neurológica, inclusive para ser submetido a uma Tomografia de crânio e demais exames que o quadro exigia. Exames que não contaram com a ‘eficiência’ da Amazonas Energia, pois a luz foi interrompida e só voltou graças ao gerador próprio que ampara o Hospital.

Passei a noite ao lado dos profissionais da área da saúde que enfrentam o trabalho duro das salas de urgência. A cada instante um novo caso, um novo acidente. As ambulâncias não param de trazer as pessoas e isso explica as eventuais demoras que pode haver no primeiro atendimento. Um enfermeiro e dois Técnicos de Enfermagem apoiavam o trabalho dos médicos que se revezavam nas macas, suturando, avaliando, e dando suporte à vida de todos que ali chegavam. Rostos cansados, mas mãos firmes conduziam cada ação dos que ali enfrentam um trabalho duro e pouco valorizado pela sociedade em geral.

Pude contar que dos 10 acidentados que ali estavam naquele período, 08 foram em conseqüência do uso de motocicletas. Embriaguês e imprudência são os grandes vilões dessa categoria. Aliás, a motocicleta é hoje o principal problema de saúde pública de nossas urgências – não tenho mais dúvidas disso. A cada dia mais eu tenho convicção de que estava certo ao ter sido o único a votar contra o serviço de moto taxi para Manaus, infelizmente aprovado pela Câmara Municipal este ano. Talvez os colegas vereadores devessem ter passado uma noite nas emergências médicas para testemunharem o que aqui relato antes da aprovação do serviço.

Dia amanhecendo, quadro estabilizado e é hora de voltar para casa, comemorando por não ter sido algo mais grave e com a certeza de que em breve esse amigo por quem tenho enorme carinho estará conosco para alegria de tantos que por ele nutrem o mesmo sentimento, especialmente sua família.



(Ver. Homero de Miranda Leão)

Fonte: Blog da Floresta

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