Há alguns meses publiquei artigo, falando dos riscos de reinício da epidemia da Cólera, através da migração dos haitianos para a América do Sul. Talvez muitos vejam essa preocupação como um exagero, mas não é.
Nossos irmãos haitianos foram castigados por um terremoto, causando a morte de mais de 250 mil deles. Uma tragédia que merece e necessita da solidariedade de todo o mundo e é, portanto, louvável e necessária a ajuda que muitos segmentos de nossa Manaus estão emprestando aos imigrantes do sofrido Haiti.
Mas não podemos esquecer que um povo não pode proteger a outro as custa de seu próprio risco e principalmente da saúde da sua gente. O Regulamento Sanitário Internacional, estabelece que potencias transmissores de doenças infecto-contagiosas que viagem de um país a outro, devem sofrer ação direta da Vigilância Sanitária dos Portos, Aeroportos e Fronteiras (Lei 8080 em seu Artigo 16, item VII: estabelecer normas e executar a vigilância sanitária de portos, aeroportos e fronteiras, podendo a execução ser complementada pelos Estados, Distrito Federal e Municípios).
O que fez o governo federal para controlar a entrada sem estabelecer os devidos controles sanitários que a situação exigia e exige? Não fez absolutamente nada. Deixou, sim, a fronteira desprotegida e hoje temos riscos reais de uma nova epidemia de Cólera, pois o seu agente causador pode alojar-se por meses no intestino – sem causar doença – e ganhar força para contaminar pessoas mais susceptíveis.
Não podemos esquecer que esta cidade já enfrentou cenário semelhante no início dos anos ’90 e seu controle custou muitas vidas e milhões de reais, além de muitas noites indormidas dos que lutaram para debelar a epidemia.
O que fazer, então? Primeiro estabelecer imediato controle sanitário no ponto de entrada e examinar cada imigrante que queira vir morar conosco, tratando-lhes adequadamente. Segundo, buscar os que aqui já se encontram e em mutirão, também acompanhar cada um deles em busca ativa dos possíveis portadores do vibrião. É o único remédio para assegurar uma adequada barreira sanitária a um velho conhecido e traiçoeiro inimigo: o Vibrio cholerae.
O relatório Saúde nas Américas 2007, lançado na última Conferência Internacional da Organização Panamericana de Saúde (Opas), nos traz dados sobre a situação haitiana que são assustadores: Cerca de 47% da população não têm acesso básico à saúde; 50% não consegue obter medicamentos elementares. Uma consulta médica que custava 25 gourdes haitianos, cerca de 60 centavos de dólar no final dos anos 1980, agora custa 1.200 (US$ 29) – 48 vezes mais cara, conforme nos diz o Relatório da Opas.
Como não há serviço público de saúde e em razão da precariedade da economia, 80% procuram cuidados de curandeiros tradicionais que consideram a AIDS um feitiço encomendado e não uma doença transmitida sexualmente. Imagine, então, falarmos de prevenção em um cenário tão desfavorável. Certamente os curandeiros preferem os tambores a uma simples camisinha – por pura, triste e lamentável ignorância.
Além da tragédia que acometeu o solo haitiano a pobreza é o principal agente a adoecer o país, cujo modelo de atenção à saúde é inteiramente pago, excluindo a maioria dos menos favorecidos. Mais da metade da população vivem abaixo da linha de extrema pobreza, recebendo menos de US$ 1 por dia.
Fonte: Blog da Floresta.
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