Durante a competição global XPrize Florestas Tropicais, cientistas estão desenvolvendo equipamentos inovadores para o inventário da biodiversidade, prometendo transformar a forma como monitoramos, identificamos e classificamos árvores e insetos. Esses avanços foram revelados em julho, durante a validação final na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, próximo a Manaus, Amazonas.
As equipes finalistas, que disputam o prêmio de US$5 milhões (mais de R$25 milhões), apresentaram soluções tecnológicas pioneiras que prometem impactar profundamente a ciência ambiental. Entre os destaques, a equipe norte-americana Welcome to the Jungle desenvolveu plataformas de monitoramento feitas de materiais biodegradáveis. Estas estruturas, semelhantes a teias de aranha, são posicionadas com a ajuda de drones e têm a capacidade de coletar amostras para identificação de espécies.
Tecnologia de Alta Precisão
A equipe criou duas plataformas distintas. A primeira inclui um sensor LIDAR (Light Detection and Ranging) de alta definição para escaneamento 3D e uma câmera multiespectral e térmica, ideal para a observação de copas de árvores. Este sistema é capaz de classificar espécies arbóreas com base na morfologia das copas. "O conceito não é novo, mas a abordagem aprimorada permite a morfologização das manchas das copas para identificar diferentes tipos de distribuição", explica Chai-Shian Kua, especialista em DNA ambiental.
A segunda plataforma, projetada para uso terrestre, integra armadilhas fotográficas, sensores bioacústicos e coleta de DNA ambiental, adaptando-se tanto a áreas secas quanto alagadas. "Podemos coletar e filtrar DNA ambiental de diferentes formas, dependendo das condições", diz Matthew Spenko, coordenador da equipe.
Ambas as soluções são conectadas a um aplicativo exclusivo que processa e relata dados automaticamente, fornecendo informações detalhadas e compreensíveis em tempo real.
Integração de Dados e Inovação
A equipe hispano-brasileira Providence+ também apresentou uma inovação com sua tecnologia Drop (Plataforma Operacional de Floresta Tropical Profunda). Este equipamento multifuncional pode ser posicionado tanto em ambientes aquáticos quanto nas copas das árvores. Além de sensores de movimento, câmeras e microfones, a Drop conta com bateria, GPS e um sistema de comunicação sem fio que utiliza inteligência artificial para identificar espécies automaticamente.
Michel André, coordenador da equipe, detalha que a inteligência artificial do dispositivo é alimentada por dados acústicos coletados desde 2017, permitindo a identificação de 160 espécies por seus sons. "O sistema está pronto para se tornar uma ferramenta de monitoramento automatizado da biodiversidade, com implementações já iniciadas em diversas unidades de conservação", afirma Emiliano Ramalho.
A equipe Limelight Rainforest focou na biodiversidade de insetos, desenvolvendo uma plataforma guiada por drone que usa luzes noturnas para atrair e capturar insetos. As imagens obtidas são analisadas por uma inteligência artificial para identificar espécies. "Estamos criando um banco de dados detalhado sobre a biodiversidade de insetos, essenciais para a compreensão dos ecossistemas", explica Julie Allen, especialista em bioinformática.
Aplicabilidade e Impacto
O secretário de Economia Verde do MDIC, Rodrigo Rollemberg, destacou a importância dessas inovações para a liderança do Brasil na transição para uma economia verde. O governo federal apoia iniciativas como o XPrize Florestas Tropicais para promover soluções tecnológicas que beneficiem a biodiversidade amazônica e as comunidades locais.
Rollemberg ressalta que tecnologias como as desenvolvidas no concurso podem não apenas fortalecer as cadeias produtivas da biodiversidade, mas também oferecer soluções para problemas enfrentados por comunidades tradicionais. "Por exemplo, drones equipados com inteligência artificial poderiam identificar doenças em plantas, como a monilíase, permitindo uma resposta rápida e eficaz", comenta.
O MDIC planeja integrar as pesquisas do Centro de Bionegócios da Amazônia com as soluções tecnológicas emergentes do concurso, buscando fortalecer a parceria entre inovação e conhecimento local.
"O objetivo é garantir que essas tecnologias sejam aproveitadas e disseminadas, beneficiando tanto as instituições quanto as comunidades locais", conclui Rollemberg.
Texto: Agência Brasil
Edição: Mairkon Castro
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